"No dia 8 de março de 1998, o Rio de Janeiro amanheceu nublado, cinzento e chuvoso. Depois de ensaiar a semana inteira com a banda no Recreio, Tim chegou a Niterói às cinco da tarde, nervoso e ofegante. No camarim, reunido com os músicos antes do show, pela primeira vez, não fumou nem ofereceu um baurete, só bebeu água.
Com o teatro lotado e meia hora de atraso, às 20h30, a Vitória Régia atacou a introdução de 'W Brasil' e chamou o síndico, diversas vezes, com o público aplaudindo. Mas Tim só entrou cinco minutos depois, trôpego e cambaleante, lívido e com os olhos esgazeados. Não conseguiu sequer reclamar do som ou gritar 'Vitória Régia!' quando a banda começou a tocar 'Não quero dinheiro':
'Vou pedir... vou pedir..', tentou cantar.
E saiu do palco. O público vaiou. Cláudio Mazza foi ao microfone e avisou que Tim não estava passando bem, que voltaria em 15 minutos. O público vaiou mais forte.
Na platéia, sua irmã Luzia viu que Tim estava mesmo mal, muito mal, e teve vontade de matar uma mulher na fila da frente, que comentou alto:
'Passando mal... ele deve é ter cheirado todas. Devia enfiar porrada na cara dele, que ele ia fazer o show no peito e na raça.'
Mazza voltou ao microfone nervoso e pediu um médico na platéia. Um doutor e uma doutora correram para o camarim. Tim havia sofrido uma crise de hipertensão, uma embolia pulmonar e uma parada cardiorrespiratória, revertida com massagens e medicamentos na ambulância do Corpo de Bombeiros que o levou para o Hospital Antônio Pedro em estado gravíssimo. Sem plano de saúde.
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O autor e a obra: Nelson Motta com Tim Maia, em Nova York, julho de 1997 |
Sedado, entubado e respirando com a ajuda de aparelhos, Tim foi internado no CTI, onde permaneceu em coma induzido. Na sexta-feira, o quadro se agravou com uma hemorragia digestiva, seguida de uma infecção pulmonar e outra renal, que se espalharam pelo seu organismo.
No domingo, 15 de março de 1998, às 13h03, o coração do gordinho mais simpático da Tijuca parou de bater."
MOTTA, Nelson: Vale tudo: o som e a fúria de Tim Maia. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.