"Vladimir estava lá, sentado numa
cadeira, com o capuz enfiado e já de macacão. Assim que entramos na sala, o
interrogador mandou que tirássemos os capuzes, por isso nós vimos que era Vladimir
e vimos também o interrogador, que era um homem de 33 a 35 anos, com mais ou
menos 1,75 metro de altura, uns 65 quilos, magro mas musculoso, cabelo
castanho-claro, olhos castanhos apertados e uma tatuagem de âncora na parte
interna do antebraço esquerdo, cobrindo praticamente todo o antebraço. Ele nos
pediu que disséssemos ao Vladimir ‘que não adiantava sonegar informações’.
Tanto eu como Duque Estrada de fato aconselhamos Vladimir a dizer o que sabia,
inclusive porque as informações que os interrogadores desejavam ver confirmadas
já tinham sido dadas por pessoas presas antes de nós. Vladimir disse que não
sabia de nada e nós dois fomos retirados da sala e levados de volta ao banco de
madeira onde nos encontrávamos na sala contígua. De lá, podíamos ouvir
nitidamente os gritos, primeiro do interrogador e depois de Vladimir, e ouvimos
quando o interrogador pediu que lhe trouxessem a ‘pimentinha’ e solicitou a
ajuda de uma equipe de torturadores. Alguém ligou o rádio e os gritos de
Vladimir confundiam-se com o som do rádio. Lembro-me bem que durante essa fase
o rádio dava a notícia de que Franco havia recebido a extrema-unção, e o fato
me ficou gravado, pois naquele momento Vladimir estava sendo torturado e gritava.
A partir de um determinado momento, o som da voz de Vladimir se modificou, como
se tivessem introduzido coisa em sua boca; sua voz ficou abafada, como se lhe
tivessem posto uma mordaça. Mais tarde, os ruídos cessaram."*
MARKUN, Paulo. Meu Querido Vlado - A história de Vladimir Herzog e do sonho de uma geração. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005
* Neste trecho, a voz é do jornalista Rodolfo Konder e não de Markun.
MARKUN, Paulo. Meu Querido Vlado - A história de Vladimir Herzog e do sonho de uma geração. Rio de Janeiro: Objetiva, 2005
* Neste trecho, a voz é do jornalista Rodolfo Konder e não de Markun.
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Célebre foto de Herzog: "suicidado" |